É muito mais que uma página da natureza;
é um livro da vida, embora não seja livre o bastante...
Tratam-na como ouro de tolo; sabe-se, é o tesouro.
Desdenham-na, para comprá-la...
A alma ainda tem a cor que um dia faltará ao milênio...
Mistura natural do amarelo-solar com o azul celestial,
Mas acastanha-se na ausência do oxigênio,
na dança infernal de outras tribos ao redor do fogo;
de um mau tempo que insiste em não passar.
Já não sabe o que é ou onde está, e nem pode entender
palavras que saem da boca em alto volume, -
mas não têm substância que garanta o amanhã, - nutrição.
Ainda assim, mastiga-as... Não há o que fazer!...
a não ser vestir o lixo do luxo de estar ficando nua...
Estranha-se; não conhece muitas das línguas
que assombram-lhe as sombras. E segue...
crepitando nos inversos da amargura de ser
o que tantos querem ter. Vê-se nos troncos que descem o rio;...
à beira, pés vindos de longe calçados em velhas
e surradas havaianas, os mesmos que amassam o barro
das descabidas clareiras... Há índios escondendo o pênis
em calças jeans, e os pés em tênis... Nos pulsos fortes,
relógios marcando as almas; a proximidade dA Hora...
As aves conhecidas cantam em outros cantos...
Aninham-se para além das fronteiras;
e pássaros de metal, asas frias em camuflada pista,
levantam estranha poeira.
Sem o
feeling do adivinho, ei-la...
Dá de comer e beber ao mundo
enquanto encolhe, seca, definha,... virando lenda.
Dança na dança das labaredas o esplendor da natureza...
Arde. Vira fumaça. Sobe aos céus, - a deus!
E o que lhe que sobra é o soçobrar-se...
Se alguma vida ainda lhe couber
será - quem sabe?... –
a que lhe soprará a imaginação
das gerações vindouras...
ju rigoni (2007)
Visite também
Dormentes,
Medo de Avião,
Navegando...
14 comentários:
Gosto deste tipo de poesia em que a poetisa não se coíbe de apontar o desequilíbrio, num misto de denúncia e alerta...
Muito bem, Ju!
Beijo :)
Surpreendente! Ainda mais porque se reveste de imagens fortes, algumas desconcertantes, com um tom elevado e profético de desilusão quase filosófica. De fato, tonitruante, mas com sábia indignação. A sua poesia não abre mão de um viés humanista.
Beijo.
Intenso e preocupante poema que nos chama a responsabilidade pelo futuro das gerações futuras.
Muito bom
beijos
Olá Ju
Belo texto misto de protesto e denúncia. Gostei
Bjux
Ju...
Nas tuas palavras me afundo... e nelas naufrago com prazer!
Beijos
AL
Ju, a sua poesia é de enorme profundidade. E não basta ler os seus poemas a correr... é preciso fazê-lo com os neurónios bem despertos e devagar... vc é uma poetisa que exige atenção total. Por isso mesmo vc é uma referência poética na blogosfera.
Vou ler de novo... e deliciar-me...
Beijos, querida amiga.
JU
sei lá, vi que é de 2007, mas me fez pensar em vc hoje. Veja que uma alma trabalhada como a sua (ainda que o corpo padeça,rsrs) dá sempre um show de humanidade...e sempre é recorrente em sua busca.
Lindo poema Ju, nos leva a uma reflexão até dolorida...Muito bom te ler! Bjs.
Alma viva que vagueia lúcida como a de um vidente, a poetiza escreveu em 2007 sobre a realidade que enfentamos hoje e enfrentaremos, provavelmente, por todo esse século.
Forte... de fato, tonitroante...
Beijokas.
Olá, Ju...
Mais um lindo poema encontro aqui.
O que dizer, minha amiga?
MARAVILHOSO!
Vc tem um poetar único, de que gosto muito!
Beijos e tenha um lindo fim de semana!
Muito lindo, Ju!
Lindo, grave, importante...
Gosto demais desta tua poesia que dá o recado que precisa ser dado!
E de forma magnífica...
Grande abraço, querida!
Denúncia da realidade, coragem em escrever as palavras próprias...apontar erros, analisar a fundo e a frio... a grandeza deste problema. Gosto do teu modo de escrever e de analisar as situações.
Beijo amigo.
Graça
Seu blog é simplesmente lindo!
Estou te seguindo me siga também?
B-Jos.
À AC, Marantonio, Angela, Wanderley, A.S., Nilson, Walkyria, Sonia, Lua Nova, Colecionadora de Silêncios, Zélia, Graça e Priscilla...
Obrigada pela visita e pelo comentário.
Bjs para todos. Inté!
Postar um comentário