domingo, junho 19, 2011

Do Espanto


Saí de casa sem sair...
Não me vesti com esmero;
não pintei os lábios;
não levei bolsa,
documentos, dinheiro...

Fui-me,...
em uma ou duas piscadas,
levada pelos sentimentos
que embaralham palavras...

Conversei-me,
desconversei-me,
e, como sempre,
não me entendi...
Ai, que merecia uns tapas!...

(Se do lado de fora
alguém passasse e me visse
em meio a tamanha pendenga
me acreditaria uma louca
a falar com janelas e portas...)

Voltei...
e, finalmente, resolvi sair, -
vestindo o melhor vestido,
usando o batom mais vermelho,
calçando sapatos bonitos,
de saltos altos infinitos...

Nem bolsa, nem documentos,
nem dinheiro.
Mãos... nuas;
coração sobrecarregado,
sem piscar, alcancei a rua.

Na esquina
dei de cara com a sina
de quem sai de casa
levando apenas sonhos
e palavras...

ju rigoni (2002)


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12 comentários:

Glorinha L de Lion disse...

Ju, como te falar algo, se vc me deixa absolutamente sem palavras quando te leio? Mais um dos teus maravilhosos poemas-retrato, mais um tocante e sincero "olhar para dentro" dividido com quem te lê. Beijos, adoro tudo o que escreve,

Tania regina Contreiras disse...

Na esquina
dei de cara com a sina
de quem sai de casa
levando apenas sonhos
e palavras...

Salve, poeta querida...Te lendo e amando o que teus versos traduzem, coisas que eu não saberia dizer.
Beijos,

Denise disse...

Para esse teu passeio interno não encontrei palavras, Ju...talvez tenha alcançado apenas o espelho...

Bjo imenso

Wanderley Elian Lima disse...

Oi Ju
Adoro seus poemas. Limpos, discretos inteligentes.
Ótima semana para ti
Bjux

manuela baptista disse...

de saltos altos infinitos

na esquina da vida


tão bonito, Ju!

um beijo

manuela

mfc disse...

Ahh, mas ainda assim eras tu quem saía naquele momento... e eu gostei de te ver!

Unknown disse...

Ju,
O sonho comanda a vida, por isso é sempre bom que ao sairmos não nos esqueçamos deles.

Muito bom, gosto da sua poesia!

Beijinho,
Ana Martins

Anônimo disse...

Olá, Ju!

Dilema difícil de resolver, este:entre o estar só por se não crer que valha a pena sair, e finalmente sair para sozinho continuar...
Acontece a tanta gente... mas acho que fez muito bem em tentar.

É tristinho, e muito bem escrito.
Beijinhos.
Vitor

Isabel Maria Rosa Furtado Cabral Gomes da Costa disse...

Querida Ju:
Leio aqui, neste poema (que só tu, com a tua sensibilidade poética, consegues escrever), solidão, desespero, angústia, amargura.
Vejo um poema extraordinariamente belíssimo,perpassado pela tristeza.
Um grande abraço.

Mariazita disse...

Querida Ju
Vejo neste lindo poema como que uma introspeção muito profunda.
Ao relegar para segundo plano os bens materiais, como bolsa, dinheiro, etc., restam os sonhos com que se irá cumprir a sina.
Gostei muito!

Uma feliz semana. Beijinhos

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Ju, gostei da recomposição, bela e elegante imagem!
'...calçando sapatos bonitos,
de saltos altos infinitos...'
------
E seguiu para o destino...
'levando apenas sonhos
e palavras...'
E a luta continua, Ju, como você diz, temos muitos 'eus'.
Este seu poema é o espelho de nossas lutas diárias, infinitas.
Triste, belo, verdadeiro.
Espelho fiel de todos nós.
Beijos, querida amiga.
Tais Luso

ju rigoni disse...

À Glorinha, Tania, Denise, Wanderley, Manuela, mfc, Ana, Vítor, Isabel, Mariazita e Taís...

agradeço a visita e o comentário.

Bjs e inté"