domingo, agosto 01, 2010

Perigo!



Não inventei o fogo
ou a roda...
Entalho pedra com pedra.
O pensamento correndo a esmo
no ermo das memórias...

Arranho o papel...
Com fino instrumento,
afino-o...
Diapasão é o da língua falada...

E vou tocando;
escrevendo, de ouvido,
versos ao avesso,
brotando do tudo
que para muitos
é nada.

Erosão à erudição.

Poesia seca, desidratada,
mutilada,
como a língua, -
a que dança nas bocas;
a que se fala nas esquinas,
nos becos, nas calçadas,
nas favelas, nos sertões,
nos banheiros públicos,
nos bares de estrada,
na “cozinha” das redações! -,
estrelas frigindo no céu da boca;
caindo carbonizadas, retorcidas,
no inferno infinito do meu papel...

- Heresia... Crime!

Não beba,
não injete,
não trague,
n
ã
o
c
a
f
u
n
g
u
e
a minha poesia...

ju rigoni (2005) reeditada

Visite também
Dormentes, Medo de Avião, Navegando...

14 comentários:

angela disse...

Especial esse seu poema, com as palavras se encadeando nas idéias associadas. Muito bonita.
beijos

Ana Lucia Franco disse...

Oi Ju, relação com a poesia de pura combustão. Quase um exorcismo das "estrelas frigindo no céu da boca", o que, a meu ver, está nas entrelinhas de teus poemas, que tanto dizem e tanto ardem.

bjs.

Anônimo disse...

Vc tem um raro instrumento de tecer poesia, sempre impecável!

Beijos.

AC disse...

Gostei muito da convicção que empresta às palavras. Há nelas uma ideia, um sentir, que não se compadece com as coisas fúteis.
Parabéns!

Marcantonio disse...

Muito bom!Um poema indócil sobre poesia; manifesto-advertência contra a poesia descarnada, imaterial, não fincada na vida, pretensamente culta (fiquei até com receio de estar incluído nisso...Rs).
Muito bonito isto aqui:


"estrelas frigindo no céu da boca;
caindo carbonizadas, retorcidas,
no inferno infinito do meu papel..."

Muito sincero.

Abraços.

Graça Pereira disse...

Gosto da tua palavra... que sabe a sal de um mar revolto...que não aceita conivência... onde a verdade brilha em cada estrela ainda que seja" no céu da boca "... Gosto da tua força...que não se "vende e nem se aluga" a ninguém...Acredito no teu passo na vida...verdadeiro e determinado.
Beijo
Graça

A.S. disse...

Ju... como tu dizes, é como a lingua que dança na boca...
Tal como dançam as palavras deste teu belo poema!

BeijOOO
AL

cirandeira disse...

Espero que continues "entalhando" essas pedras poéticas pois é delas
que estamos carentes!!!

Beijos

Tais Luso de Carvalho disse...

Ju, adorei isso aqui:

'Poesia seca, desidratada,
mutilada,
como a língua, -
a que dança nas bocas;
a que se fala nas esquinas,
nos becos, nas calçadas,
nas favelas, nos sertões,
nos banheiros públicos,
nos bares de estrada,
na “cozinha” das redações!'

Tua poesia não pede licença, chega a todos como numa explosão, se contorcendo em idéias, desnudando atitudes das mais inesperadas. E sempre bela; diz a que veio...

Beijão, amiga!
Tais luso

Zélia Guardiano disse...

Poesia forte a sua, Ju!
Lindamente forte...
Você não escreve em vão...
Estou simplesmente encantada!
Abraço grande, querida, todo entremeado de gratidão pela visita...

Sonia Pallone disse...

Vim agradecer minha linda, o invisível perfumado das suas palavras no meu Solidão enquanto estive ausente. Retorno à minha poesia, e te convido para continuar caminhando comigo...Valeu querida, agradeço de coração a presença tão preciosa no meu cantinho. Bjo grande.

Tania regina Contreiras disse...

Ju, Ju...tua poesia sempre me pega, me toca, me arrebata. Uma escrita singularíssima, sobretudo!
Beijão, querida

Brasil Desnudo disse...

BOA NOITE jU!

Linda poesia, onde demosntra que a boca misturando-se a desenrolar da língua, pode expressar sua imensidão, dando a interpetração do singelo e do sengular..

Mesus parabéns e, um ótimo domingo...

Abaços

MARCIO RJ

ju rigoni disse...

À Angela, Ana Lúcia, Larinha, AC, Marcantonio, Graça, A.S., Cirandeira, Taís, Zélia, Sonia, Tania e Marcio, meu muito obrigada pela visita e comentário.

Bjs e inté!