O coração me bate,
sem qualquer razão aparente,
diante do papel em branco;
um dia, tronco
guardando em anéis a memória.
No outro, encontro, -
estranhas espécies,
que registram em papéis suas histórias.
Ah, esse primeiro olhar
a extrapolar os limites da folha...
No branco do papel
me perco
e me encontro...
Fascínio,
paixão pelo desconhecido
que, eu sei!,
conhecerei primeiro...
Olho,
cheiro,
toco,
namoro,
adivinho,...
delicio-me.
Vez em quando
levo a caneta à boca, -
minha língua sente-lhe o gosto...
Carícia prévia,
molhada em ansiedade...
Rio-me.
Prazerosamente,
dou pena ao papel...
Solta a amarra,
ela é movimento.
Tudo é rápido,
muito rápido,
cada
vez
mais
rápido...
Lanço ao leite do meu rio
o barco do sentimento
e, embora já esteja a escrever,
por incrível que possa parecer,
não domino o pensamento...
Não posso parar,
não devo parar,
não quero parar...
Enfrento a correnteza,
as pedras,
as quedas,
o traquejo do trajeto.
A voz, na mente,
é um farfalhar
de águas,
o som do roçar das saias
com as anáguas
das moças de antigamente...
Nesse fio azul que escorre,
o meu rio corre,
corre,
corre,
para desaguar
num mar
de onduladas letras...
Ao fim,
está (quase) tudo lá...
Experimento um arfar...
Um cansaço de pescador...
E aquele amor possessivo,
egoísta, arrogante,
feito do lamber a cria...
Contraditoriamente,
o instante do toque
de despertar, -
a hora de nadar
contra a corrente...
Ir...
e voltar...
Ir e voltar...
Ir...
e voltar...
(
Farinha de mandioca no hashi
...
Quarenta dias no deserto...
Quatrocentos passos para o oásis...
Alguém aí já limpou jaca?...
Bem,...
tudo não se há de saber...)
ju rigoni (1999)
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15 comentários:
Oi Ju!!!! Encantamento é o que sinto nesse momento em que te leio. Intenso e lindo.Parabéns!!
Um beijinho
E.T. Não sei se você aprecia esses prêmios que rolam pela Web.
Caso os aprecie, existem dois te aguardando no Renascendo.Estão no post do dia 25 de fevereiro.Bye
Oi Ju
Passei para ler a novidade. Nesse dia da poesia, você brilhou.
Beijos
Nem tudo se há de falar.
Bonito paralelo entre o escrever e o rio.
beijos
Uma viagem pelo espaço
sideral
de nós mesmos.
Lindo!
Beijo.
Lu...
Nos rios de água corrente
que passam nas tuas veias
entre ti e a nascente
as marés são sempre cheias...
BeijOOO
AL
Ju, querida, que lindo poema!
Destaco alguns fragmentos:
‘Ah, esse primeiro olhar
a extrapolar
os limites da folha...
No branco do papel
me perco
e me encontro...
-outro:
Vez em quando,
levo a caneta à boca, -
minha língua sente-lhe o gosto...
Carícia prévia,
molhada em ansiedade...’
Sempre mostrando sensibilidade.
Meu carinho
Tais luso
Ju, é bom ti ler, muito bom!
=)
Ser poeta é algo muito especial mesmo! Quem, simples mortal, consegue extrair poesia do próprio processo de sua criação?
Lindo! Parabéns!
Bjs
E o leitor, Ju, também "olha, cheira, toca, namora e se delicia". Ainda agora li uma definição que falava de "fazer amor com a poesia". Seu poema é puramente isso, sensorial, sensual. E nesse entrelace poético-carnal, digo eu lá como aqui, ganham não só os dois amantes, mas nós todos, leitores, nesse nosso voyerismo constante.
Eliane F.C.Lima
Lindo este encantamento com o papel em branco...e depois, o rio dos pensamentos que não pára... e o desejo de escrever, ercrever como uma força que leva tudo à sua frente, até chegar à foz....É este o percurso dos escritores... Parabens!
Beijo
Graça
Muito bonitos os versos, a sensibilidade, a imagem, enfim... É um desprender-se da realidade e viajar em poesia, dando às emoções frição e liberdade. Beijos e bom final de semana!
Ju,
Eu vivo me encantando com tudo e com todos. Sou uma encantada. E penso, enamorada, e não quero parar de pensar... Ah, como é bom sentir o coração palpitar de forma diferente!
Ah, adorei a foto da Mell, no link aqui para o blog dela, tá linda!
Beijos e inté!
Convite
O livro "Continuando assim..." foi maltratado...
Resolvi por isso, e porque tanta gente não encontra o livro onde deveria estar (nas livrarias), recontar a história
Lá no …. Continuando assim…
Vamos em metade da história, o livro reescrito, não está igual (nem poderia!) ao que foi editado.
Obrigada a todos os que vão seguindo ( pois só assim vale a pena).
E já lá vão mais de 200 comentários de pessoas tão diferentes umas das outras…
Um obrigada especial a quem ainda não conhece, e chega de novo
Mais uma reflexão em relação a todo este assunto, e um conselho, se é que me é permitido:
--- quando vos pedirem dinheiro para editar as vossas palavras, simplesmente digam que não ---
BJ
Teresa
À Lau, Wanderley, Angela, Lara, A.S., Taís, Geraldo, Giramundo,Eliane, Graça, Luciana, Dani, ...continuando assim..., meu agradecimento pela visita e comentário.
Bjs e inté!
O Fanzine Episódio Cultural é uma publicação bimestral (Machado-MG/Brasil) sem fins lucrativos distribuído gratuitamente em várias instituições culturais. De acordo com o editor e poeta mineiro Carlos Roberto de Souza (Agamenon Troyan), “o objetivo é oferecer um espaço gratuito para que escritores, poetas, atores, dramaturgos, artistas plásticos, músicos, jornalistas... possam divulgar a sua arte”.
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