Quarenta dias no deserto
e ei-lo desperto,
mas ainda ao chão.
Levanta-te e anda! -
ordena o poeta ao poema…
E a palavra se cumpre.
Infinitos poemas
em um só...
Num mesmo poema,
o poema do poeta
e o poema
que o leitor interpreta.
Num mesmo poema
universos estranhos
ao seu autor…
e tão íntimos
do mais íntimo
de cada leitor…
O autor lambe
e libera a cria
e o leitor a recria -
somando poesia
a poesia.
Um poema
é pão e é vinho, -
é milagre da multiplicação,
o milagre dos milagres.
O autor de um poema
é papel em seu papel.
Ferramenta que desperta
inconscientes poetas
sob um conhecimento
formal ou mutilado,
ou, na falta deles, na agonia
do parco entendimento…
na simplicidade de um saber
que é pura emoção.
Ao escrever um poema
o poeta comete o pecado
da sedução, -
conduzir o leitor
para dentro de si mesmo
a desvendar,
revelar
sua própria e latente poesia.
Poemas não têm asas,
poemas são asas…
De grande envergadura.
Revestidas das penas da liberdade…
de interpretação, -
vôos
acima, abaixo, ou ao nível
da intenção do autor
de um poema.
Um poema é sol
a lançar sua luz
em maior ou menor intensidade.
É possível sabê-lo
sem sequer olhar para ele.
É possível tê-lo diante dos olhos
e não vê-lo.
Poemas não são bons filhos, -
à casa jamais tornarão.
Não como dela saíram…
Já não sabe o poeta
por onde anda o poema…
aquele poema…
o seu poema…
o poema que escreveu.
Atingido
por uma, dez, mil…
experiências diferentes -
desavisadamente poéticas -,
perdeu-se
onde devem perder-se
todos os poemas
do mundo…
Levanta-te
e anda!
ju rigoni (1992)
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23 comentários:
"Num mesmo poema,
o poema do poeta
e o poema
que o leitor interpreta"
Eu acho o máximo as diversas interpretações que os leitores fazem. Trazem um mundo novo ao meu poema. Fico feliz; há poetas que não gostam, que rebatem o que o leitor diz. Mas eu penso que se não entenderam o que eu quis realmente dizer, é porque não me expressei bem, e de qualquer forma, adoro ver meus textos por olhares que eu não havia imaginado.
Seu poema é incrível, independentemente de interpretações.
Beijos.
Inspiradissimo poema, descreve de forma simples aquilo que é complexo: A plasticidade das palavras.
beijos
Oi Ju, belo poema numa articulação inteligente de palavras e lindas metáforas. O poema e o poeta se mesclam sendo um só... Obrigada pelo carinho da visita. Bj.
Oi Ju adorei. Bela apologia ao poema. Parabéns.
Beijos
Gostei do seu espaço. Voltarei sempre. Já adicionei aos meus favoritos.
Grande abraço do
Roberto.
Um poema
é pão e é vinho, -
Belíssimo!Poeta, quero voltar com calma/tempo para ler/reler/ler .Gostei muito do que vi. parabéns.
abraços
Olá poeta infinita, recém chegado de alta,após a terceira neurocirurgia em cérebro meu,ao te ler e sentir, platina e titânio , semeados nesse procedimento,fundiram-se,como uma rosa escarlate esculpida!Delícia Pura!Voce me fez sentir !Um sãndalo texto poético seu!
merci!
Bzu mãos suas!
Viva Vida!
Belíssimo poema! Desses que encantam a alma da gente.
Bjs
Que bom encontrar seu espaço, neste imenso espaço cibernético...sensibilidade pura...seus poemas são lindos..
Queria sua permisão para colocar um que ao ler me tocou profudamente, acho que é pelo momento...é Fresta...emocionei-me ao ler...lindo demais..
Bjos e parabéns pelo espaço..
muito bom. muito bom.
continue voando nos seus belos poemas.
q eles vao cada vez mais longe.
bjs
Ju
Querida, vim te agradecer , postei seu poema lá...deixou meu blog ainda mais rico, fiquei feliz...:)
Muito obrigada viu! deixei a mesma formatação que está aqui, que é simplesmente linda.
Bjo grande
ótimo final de semana pra vc e toda familia.
Ju, que delícia de espaço! maravilha, parabéns!
Adorei! Voltarei mais vezes sei que encontrarei muito coisas boas aqui.
Beijos.
lindo e denso poema...uma aula de como ler um poema.
Ju
Teu blog é lindíssimo e tuas poesias mais ainda!
Vim agradecer a tua visita e as palavras carinhosas que me deixaste lá no Encantaventos e já fiquei tua fã.
Voltarei muitas vezes,
Bjs
Lindo Blog... lindas palavras... lindo caminho que segue sua consciência...
Essa relação entre obra x expectador x criador é sempre discussão pertinente, né?!
Parabéns pelo bom gosto e obrigada por me seguir também!
Beijão!
Brilhante!!! Lindo!! Amei, Ju!!
Beijosss
Fiquei por aqui. Eu ainda nã tinha vindo nesse seu blog.
Belo Blog!
Belo Poema!
lembrei-me de outro poema que parece conversar com este (está no livro ARADO DE PALAVRAS-BILINGUE, Grupo Cero):
Há quarenta vertigens
de sua morte,
zarpara.
Ele agora, um fantasma.
Silêncio,
o horizonte atravessa
peixes, maçãs e poemas.
de Lúcia Bins Ely
um abraço,
na poesia,
Ju,
Cresceu, o menino-poema, e já anda pelas próprias pernas...
Beijos,
Marcelo.
Que legal!
Nossa... adoro poesias.
Abraço
Mariza :-)
Que surpresa boa tua visita no meu blog, muito bons os teus poemas. Gostei bastante. Abs, Tati
Lindissima esta parabola!!!
Congratulações
Bom final de semana
Olá Ju, obrigada pelo link (já fiz a mesma coisa) e pela "visita meteórica"! Gostei muito daqui. Voltarei com mais calma.
Abs
Olá, amigos!
Quero agradecer a todos que, apesar de minhas visitas tão raras, continuam a comentar por aqui.
Agora, uma palavrinha ao Giramundo:
Obrigada por dispor-se a seguir-me apesar da minha "meteórica" visita. Como está dito no rodapé deste post, meu tempo é, infelizmente, curtíssimo. Ainda assim, tento conhecer outros blogues. E quando alguma coisa - um poema, uma notícias, um autor, uma música, uma fotografia, uma obra de arte - me chama a atenção, linco-os para, mais tarde, poder desfrutá-los com calma num leitor virtual, geralmente o google reader. Linco-os também quando algum amigo os recomenda.
Compreendo que meu modo de agir não é o mais apropriado mas, no meu caso, pelo menos por enquanto, em razão do tempo escasso, não pode ser de outra forma.
Um grande beijo em todos. E inté!
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