A barca atraca,
desembarco,
e na Praça XV,
em meio a tanta gente,
mais corro do que ando...
A visão do Paço Imperial
sempre é sol do meio dia
no início das minhas manhãs...
Tenho pressa e aperto o passo
em direção à Primeiro de Março...
Atravesso a rua
junto ao sinal fechado
em meio ao burburinho matinal
que assola o Centro do Rio.
Buzinas, sirenes, apitos de guardas,
gente montando barracas...
Já na Sete de Setembro,
a porta lateral da igreja
expõe o fiel a orar
e tocar os pés do Cristo
Crucificado.
Mas, não há tempo
para um ato de fé
e sigo meu caminho...
Gente igualmente apressada
passa por mim,
enquanto o comércio abre as portas
ao novo dia...
De longe,
noto a lentidão dos veículos
que transitam na Rio Branco...
Agora, mais perto, posso ver
a mulher a chorar,
a polícia a cobrir o morto,
paramédicos sem função...
Lá se vai meu bom-humor...
Quase impossível
atravessar a Avenida aqui...
Dobro à direita...
Na esquina da Rua do Ouvidor,
parado à porta do banco,
um homem e seu saxofone,
(também já o vi no metrô),
sopram no ar um Pixinguinha
e me devolvem o fôlego...
Sigo um pouco mais feliz,
embora ainda não seja cicatriz
a primeira ferida do dia...
Viajo em meus pensamentos...
Lá, acima de todo este movimento, -
do casario antigo, dos arranha-céus -,
destes monumentos em cimento,
tudo é muito azul...
Além disto, eu sempre sei
de que lado fica o mar...
"Meu coração,
não sei porque,
bate feliz quando te vê..."
Dobro à esquerda
na Gonçalves Dias, -
a música cada vez mais longe -,
já não estou tão ansiosa...
Ali, à frente, a Colombo,
a confeitar esta História...
Quanta poesia há no Centro
da cidade maravilhosa...
Eu amo este burburinho...
Esta gente bonita, inquieta,
a correr atrás da vida...
Eu amo o Centro do Rio!
Este contraste
entre a modernidade e o antigo, -
sempre a melhor novidade...
Os museus, as igrejas,
os teatros,
a tradição que tempera
bares e restaurantes
a desdenhar o futuro
que todo dia é passado...
Aqui e ali, os ambulantes,
o rapa, a correria,
polícia reprimindo pirataria...
Pessoas a namorar vitrines;
os "mulas" puxando suas cargas;
os turistas, suas câmeras,
suas roupas coloridas,
seus olhares e sorrisos curiosos...
Executivos e suas pastas,
executados pelo calor tropical,
em seus ternos, colarinhos, gravatas...
Mulheres, muitas mulheres,
prontas para enfrentar
mais um dia de trabalho...
Muitas delas a marcar -
no tec-tec
do salto fino dos sapatos
nas pedrinhas portuguesas -
o rítmo acelerado
da poesia que pulsa
neste grande coração...
O Centro do Rio é isto
e o muito
que não está neste trajeto...
O Mercado das Flores,
o Museu Nacional de Belas Artes,
a Saara,
o Largo da Carioca,
o Amarelinho,
o Teatro Municipal,
a Biblioteca Nacional,
a Acad...
Pena... Cheguei!
- Ei! Por favor,
segure o elevador...
- Bom dia!
ju rigoni (sem registro de data)
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Dormentes.
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