Talvez
é tatear no escuro;
caminhar sobre um muro
de dúvidas…
Talvez
é uma ilha perdida
num mar de interrogações…
Talvez
é um céu nublado…
Amanhãs que se repetem
infinitamente iguais;
janelas fechadas,
desistências veladas,
entre insistência e acaso, -
talvez é reticências
no lugar errado…
Morrer em vida
e não se reconhecer morto.
Ignorar o cais,
perder de vista o porto, -
navegar no mar do medo
de enfrentar certezas.
Talvez, talvez, talvez…
Ondas turbulentas…
que arrastam rimas,
violentam a alma.
(Razão… Merda!
Para que serve
esta bastarda?! -,
cheia de empáfia
e arrogância,
sem emoção,
sem calor…
Às favas a elegância!)
Quem consegueviver com um talvez?…
Talvez
é acomodar-se nas facilidades
de uma medíocre
eternidade.
…
Masturbe-se.
Muito. Sempre.
Descarte a comunidade,
a cidade,
o país,
o faz-de-conta
que vive nos seus talvezes…
Descarte-os
e descarte-se, -
e pela primeira vez
terá prestado um grande favor
não apenas a mim,
ou a si próprio,
e sim,
sem qualquer talvez,
ao mundo.
ju rigoni (1997)
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19 comentários:
Que braveza!
Com toda razão o "talvez" é limbo, lodo em que nossos pés atolam com dificuldade de andar.
Forte e bonita sua poesia.
beijos
A gente sempre quer se descartar, pelo menos, uma vez na vida, desejando fugir do "talvez" para a certeza. Até que descobre que é a vida a "tal" vez.
Eliane F.C.Lima
Que lindo texto...
O que mais me chamou a atenção, além do final, foi essa estrofe:
"Talvez
é um céu nublado…
Amanhãs que se repetem,
infinitamente iguais;
janelas fechadas,
desistências veladas,
entre insistência e acaso, -
talvez é reticências
no lugar errado…"
Fez todo sentido pra mim.
Talvez
Beijos e boa semana pra ti.
Ju...AMEI o poema! Sim, TALVEZ é tudo isso e mais, TALVEZ tortura...
´Já te disse que sou fã dos seus poemas, não? Estão entre alguns muito queridos que adoro ler.
Abraços,
Tânia
Quem vive de Talvez" está sempre
em cima do muro, não assume nada.
COM CERTEZA!
Gostei da força, do ritmo e da CORAGEM da poeta. Como diziam os caboclos do sertão: "Cabra bom não
bebe água, masca fumo e engole a
baba"!
Beijos
Nossa! Muito bom. Começa compassado como um talvez, e explode pelo meio com ímpetos de certeza.
O 'talvez' é até necessário como dúvida inicial; o problema é a sobrevida dele na ação ou inação, como um personagem que não obedece à rubrica que o manda sair de cena.
Abraço.
Olá, Ju.
Eu gosto muito da sua escrita. Sempre tão densa e imagética. Maravilhoso!
Abraços,
Patrícia Lara
Forte esse poema, quase um desabafo. Dane-se as convenções e os medos, o importante é ser feliz.
Beijos
Forte esse poema, quase um desabafo. Dane-se as convenções e os medos, o importante é ser feliz.
Beijos
Não é verdade tudo que dizes neste belissimo poema? E porque vivemos todos num "talvez" ( que nem é quente, nem frio...) é razão para nunca termos " vez" em nada....
Obrigada pelo poema que deixaste no meu blog no teu comentário...
Um beijo especial.
Graça
Ju, querida poetisa-amiga.
Lindo de viver, o seu poema.
Há um tipo de talvez que representa um leque de possibilidades; um quase sim, que, se não se confirma de imediato, é somente para não estragar a surpresa.
Porém, há um outro tipo de talvez que nada mais é que um não, dito por aqueles que não têm coragem de dizer, de modo mais direto, o que pensam e o que sentem.
O primeiro é cheio de esperança e charme; o segundo é pura hipocrisia.
Mas aqui tem-se uma certeza: seu poema é maravilhoso, sem porém e sem talvez.
Beijos, Ju!
Ju,
Este é mais um de seus belos poemas: moderno, sincero e corajoso. Parabéns.
Abraços,
Pedro.
Ju, que belo retrato de nossas vidas. Esta repetição do ‘talvez’ gosto imensamente, dá força ao texto.
Este teu poema nos mostra todo o supérfluo, a banalidade, a futilidade da humanidade. Afinal, o que somos? Diante de tantas superficialidades o ser humano mostra toda sua fraqueza, toda sua insegurança e todo seu recalque, porque o negócio é ter e não ser. É parecer.
Talvez, a gente não consiga viver a verdade; a verdade custa muito; requer dignidade, autoconfiança, amor ao próximo; requer a ausência de vaidades e um caráter íntegro; requer a simplicidade. Vejo que com tantos ‘talvezes’ somos impedidos de viver num estado de alegria e satisfação, de bem conosco. 'Talvez' é o contrário de coragem de dizer, de fazer e de viver plenamente. ‘Talvez’ é a eterna dúvida do que é certo. Acho que no fundo é almejar o que não podemos. E acabamos em cima do muro...Derrotados.
Forte e belo.
Beijos, amiga.
Tais luso
Ju,forte, como te é característico.
penso que o talvez sirva de partida para experimentarmos as duas margens opostas. Gosto de ir de um lado a outro e me equilibro assim, o talvez é caminho morno, em cima do muro. Só subo no muro para me atirar mais longe..rs
eu gostei muito desse poema
beijos
Tenho a sensação de que sempre acabo sendo repetitiva: sua crítica, doses de realismo... tudo com sensibilidade!... Adoro!
Os 'não saberes' lindamente expostos!!!
Beijos =)
Obrigada... sempre!
Ju, amei seu poema. Li e reli, e em voz alta. Desabei... Talvez...por estar vivendo todo esse momento dos "talvezes" e do querer "descartar" e não poder.Você nem imagina... Que "divã" fiz aqui, amiga. Culpa sua, do seu talento.
Um beijo e muitos Bravoooooo!!!!!
O tom de irritabilidade e revolta não tira mérito à estrutura bem conseguida deste poema.
A poesia não tem de ser sempre doce porque os poetas também não o são, às vezes.
L.B
Poema forte, decidido, de "saco cheio" com as indecisões...
Angela,
Eliane,
Luciana,
Tania,
Cirandeira,
Marcantonio,
Patrícia,
Wanderley,
Graça,
André,
Pedro,
Taís,
Andrea,
Nadine,
Lau,
Lídia,
AC...
Muito obrigada pela visita e comentário.
Bjs e inté!
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