domingo, junho 27, 2010

Vertigem



Aconteceu
durante
a
madrugada.
Li
a
matéria
e,

então,
percebi
a
extensão
da
tragédia...

A
poesia
estava
morta…

Morreu
de
morte
matada.

Foi
solenemente
ultrapassada,
porque
era
disforme, -
não
se
parecia
com
um
poema -,
dizia
o
que
não
devia,
e rimava
fora
de
hora.

Esqueça
a
Marcha
Fúnebre,
porque
essa
tal
falecida
é
por
demais
brejeira
para
tanta
pompa.

Ela
escolheria
um
som
que
tivesse
a
sua
cara, -
um
chorinho,
um
samba,
uma
bossa
nova
com
inho,
um
batuque
na
caixa
de
fósforos…

Em
mais
um
dentre
tantos
velórios,
lembre-se
da
cachaça,
da
cerveja
e
da
saideira.
E
pague
algumas
carpideiras, -
que
alguém
precisa
chorar
nesta
festa
derradeira.

Aquém
da
censura,
e
com
o
perdão
da
loucura,…
antes
morta
que
desaparecida!

Não
se
faça
de
rogado;
entre
neste
cortejo.
Mas,
se

estiver
mamado
e
não
der
pra
fazer
o
quatro,
fique
bem
enfileirado.
Não

sair
da
formação
como
estas
minhas
palavrinhas, -
umas
gordas,
outras
magrinhas -,
que
finada
e

santinha
toda
poesia
merece
alguma
homenagem,
inclusive
a
minha…

Um,
dois…
Um,
dois…
Um,
dois…
Ela
era
uma
parada!…
Que
tentou,
mas
jamais
marchou
adiante
de
todas
as
forças…

E
o
texto
agora
está
assim, –
de
tão
vertical,
esquelético…
Despoetizou-se
num
desabar
sem
fim…
Um
cavar
o
poço…
Um
desequilibrar-se…
Um
preparar
a
cova…
no
despencar
vertiginoso
até
o
buraco
da
desova.

Sinal
dos
tempos?…

E
você
aí,
assim,
também
tonto,
desestruturado,
por
mim
torturado…

Não
deve
ser
mesmo
fácil
despencar
comigo
deste
precipício
de
tristezas…

Morta
a
poesia,
tudo
que
um
texto
pode
oferecer
é
este
escorrer
solidário
com
as
lágrimas
de
alguém
que
sempre
a
amou.

E
ainda
que
não
lhe
seja
possível
entender
do
que
falo,
não
deixe
que
estes
pensamentos,
meus
fluídos
sentimentos,
escorram
através
de
um
ralo…

ju rigoni (Anos 80)

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16 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Aplausos, aplausos, aplausos. Amei.
Beijos

Anônimo disse...

Demais, Ju, eu não deixo!

angela disse...

Mas
esta
despadida
ficou
pra

de
boa
cheia
de
brejeirice
que
orgulharia
a
finada
da
poesia.


beijos

Andrea de Godoy Neto disse...

Ju, que lindo! Vou colher todos esses fluídos pensamentos e sentimentos em uma bacia de flores... depois, vou regar o jardim :)

beijos

Tais Luso de Carvalho disse...

Ju, é o tal negócio... quem não sabe poetar, quem não tem veia por onde escorre o sangue de poeta, que não se meta na tarefa, pois vai ver a derrotada morte, talvez num fúnebre cortejo com tudo que tem direito: flores e lágrimas – ainda que de carpideiras.

Amiga, não quero despencar, não; deixo para o poeta escolher a hora de deixar fluir seus sentimentos; após, saberá resgatá-los.

Bonita esta tua criação, quando vi, estava num triste cortejo: mas do meu som, bem atrás de mim, está tocando o Nocturno de Chopin...pesado, sério.

Não é um chorinho, e nem samba de batuque gostoso, brasileiro...

Mesmo assim sempre serei solidária com as tristezas dos poetas. Vocês sabem exprimir, com beleza, todos os sentimentos existentes. Conseguem do mínimo, fazer o máximo. E dizer com beleza coisas muito tristes.

Beijos, amiga!
Tais luso

Tania regina Contreiras disse...

Vertigem maravilhosa essa, Ju: aplausos, aplausos!!!

Beijos,
Tânia

Eliane F.C.Lima disse...

Minha querida Ju e, depois dessa, mais querida ainda,
Muito bom. Em todos os sentidos. É a prova do que se tem dito: não há uma separação entre forma e conteúdo. A forma de seu poema é, mais que tudo, seu conteúdo.
E a gente vai lendo e escorregando por ali abaixo, na corrente dessa poesia vivíssima.
Eliane F.C.Lima

Sonia Schmorantz disse...

Impressionante a construção deste poema, que fala da própria morte!
beijos Jú, desculpa se não tenho comentado muito, são fases, mas não deixo de ler, viu?

Ianê Mello disse...

Repasso com muito carinho esse selo Sunshine Award que ganhei do Blog Colcha de Retalhos para você. Vá lá pégá-lo em meu blog Diálogos Poéticos e veja as regrinhas.

Grande bj.

Unknown disse...

Ju
foi a poesia sua que eu mais gostei, menina...me levou mesmo. Me enganou, me fez ver minha morte e minha vida. Maravilhosa.

A.S. disse...

JU...

Enquanto houver poetas a poesia será imortal!

Beijosss
AL

Nadine Granad disse...

Ah, delícia essa poesia!
A divisão... genial! Múltiplas leituras...


Beijos... sempre fã =)

querência disse...

Pelo que posso entender a Poesia
está cada dia mais VIVA!, pelo menos enquanto existirem POETAS DE
TUA LAVRA!
BELÍSSIMO POEMA!

Beijos

sueli aduan disse...

Belíssimo!

Parabéns, poeta!
abs

Rita Contreiras disse...

E como toda morte é um renascimento, esa resistente poesia se reinventa, se ultrapassa, vai nos contratempos da vida e convida a poetisa a delirar lindamente nessa criativa poesia renascida! Amei de paixão!

ju rigoni disse...

wanderley,
Larinha,
Angela,
Andrea,
Taís,
Tania,
Eliane,
Sonia,
Ianê,
Wall,
Albino,
Nadine,
Giramundo,
Sueli,
Rita...

muito obrigada pela visita e comentário.

Bjs e inté!